
O Sertão Digital
"O senhor… mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso que me alegra, montão."

Thiago Oliveira
Começo este espaço com palavras de Riobaldo, o narrador-protagonista de Grande Sertão: Veredas, porque é dele que empresto não apenas o nome, mas a coragem de narrar. Em tempos de feeds infinitos e notificações incessantes, criar um site pessoal em 2025 pode parecer um gesto anacrônico,gp como quem insiste em escrever cartas quando todos mandam áudios. Mas é justamente neste aparente contrassenso que reside o sentido.
Um Site em 2025?
Vivemos na era do conteúdo fragmentado. Nossos pensamentos se dispersam em threads, stories que desaparecem em 24 horas, posts que se perdem no algoritmo. Somos incentivados a pensar em pedaços de 280 caracteres, a reagir em vez de refletir, a consumir em vez de contemplar. As redes sociais nos transformaram em performers perpétuos de nós mesmos, sempre conscientes do olhar do outro, sempre editando nossa persona digital para maximizar engajamento sob o risco de nos afastarmos de nós mesmos.
Um site pessoal é um ato de resistência gentil contra essa fragmentação. É recuperar a autonomia sobre o próprio discurso, criar um espaço onde o pensamento pode se estender, onde as ideias podem amadurecer sem a pressão do imediatismo viral. Sem métricas, sem algoritmo, apenas o espaço e o tempo necessários para que o pensamento respire.
Um espaço digital pessoal é afirmar que não somos apenas conteúdo para plataformas alheias, é operar sob suas próprias regras, seu próprio ritmo. É escolher a permanência sobre a efemeridade, a profundidade sobre a superfície, a reflexão sobre a reação.
Riobaldo
A escolha de Riobaldo como patrono deste espaço não é casual. Em Grande Sertão: Veredas, Riobaldo narra sua vida a um interlocutor silencioso – alguém que, como você que me lê agora, está presente mas permite que o pensamento flua, que a memória se desdobre, que as contradições coexistam.
Riobaldo é o jagunço-filósofo, aquele que viveu a ação mas escolheu a reflexão. Suas travessias pelo Sertão são também travessias interiores, e sua narrativa é uma tentativa perpétua de compreender – o mundo, o outro, a si mesmo. "Viver é muito perigoso", ele nos diz, e talvez por isso mesmo precise ser narrado, pensado, recontado.
Um site pessoal é, em certo sentido, nosso próprio grande sertão. É o espaço onde podemos ser narradores de nossas próprias travessias, onde podemos explorar as veredas do pensamento sem pressa de chegar. Como Riobaldo, que conta e reconta, que duvida e afirma, que questiona até mesmo a existência do diabo enquanto narra seu suposto pacto com ele, aqui também posso exercer o direito à dúvida produtiva, ao pensamento em processo, à ideia que ainda não se cristalizou em certeza.
O Sertão é o Mundo
"O Sertão é do tamanho do mundo", e o mundo digital, com toda sua vastidão, também é sertão. Território vasto e muitas vezes árido, cheio de caminhos e descaminhos, de encontros e desencontros. Neste sertão digital, este site é uma pequena casa de fazenda, um pouso onde o viajante pode parar, descansar, pensar.
Aqui, como Riobaldo, posso exercer a liberdade de não ter todas as respostas, de explorar as ambiguidades, de deixar que o pensamento siga seu curso natural – às vezes rio caudaloso, às vezes riacho, às vezes vereda quase seca que ainda assim insiste em fluir.
Este site nasce, portanto, como um espaço de travessia. Não promete destino certo, mas oferece companhia na jornada. Como Riobaldo, que transforma sua vida em narrativa e sua narrativa em busca de sentido, aqui também busco transformar experiências em reflexões, leituras em diálogos, questões em novas questões.
Seja bem-vindo a este sertão particular. Como diria Riobaldo: "O senhor... mire veja".